Os 50 anos do romance juvenil “O Meu Pé de Laranja Lima”

O livro “O Meu Pé de Laranja Lima” ganhou em 2018 uma edição comemorativa aos seus 50 anos de existência. A obra de José Mauro de Vasconcelos é sucesso de público desde que foi lançada – já vendeu mais de 3 milhões de exemplares, ganhou adaptações para a TV e o cinema e foi publicada em 52 idiomas para 106 países. Trata-se de um romance juvenil, escrito por José Mauro de Vasconcellos que foi publicado em maio de 1968 e vem influenciando gerações no Brasil, onde foi adotado em escolas e, posteriormente, adaptado para o cinema, televisão e teatro.
Filho de família nordestina, o escritor José Mauros de Vasconcellos nasceu no Rio de Janeiro no dia 26 de fevereiro de 1920 e com menos de um mês de idade foi levado para Natal, no Rio Grande do Norte, onde foi criado pelos tios maternos e aos 19 anos de idade abandonou o curso de medicina no segundo ano na capital potiguar e retornou para o Rio de Janeiro na busca por melhores oportunidades. Fez de tudo na vida, até que conheceu os irmãos Villas Boas com os quais percorreu quase toda amazônica, onde seu instinto de escritor foi aguçado. Aos 22 anos, em 1942, publicou seu primeiro livro, o romance “Banana Brava”. José Mauro de Vasconcellos publicou 22 livros e o seu mais famoso é “O Meu Pé de Laranja Lima” que foi o 12º livro da sua carreira literária. Ele morreu aos 64 anos no dia 24 de julho de 1984, em São Paulo.
“O Meu Pé de Laranja Lima” retrata a história de um menino de cinco anos chamado Zezé, que pertencia a uma família muito pobre e numerosa. Sua mãe trabalhava numa fábrica e o pai estava desempregado. Passavam por muitas dificuldades, pelo que as irmãs mais velhas que tomavam conta dos mais novos e, por sua vez, Zezé tomava conta do seu irmãozinho mais novo, Luís. Em 2018, o best-seller juvenil completa 50 anos de lançamento. No entanto, foi numa semana perdida de 1967, em Ubatuba, no litoral norte do estado de São Paulo, que José Mauro de Vasconcellos, autor de “As Confissões do Frei Abóbora” vencedor do Jabuti de melhor romance em 1966, pôs fim na história de Zezé, ou, como ele coloca no subtítulo, na “história de um meninozinho que um dia descobriu a dor”.
“O Meu Pé de Laranja Lima é uma obra que viaja com facilidade — é, até hoje, o livro brasileiro mais traduzido para outras línguas. Pessoas de diferentes países e realidades se identificam com Zezé porque ele representa tão bem aquela mistura de inocência e travessura das crianças de 5 ou 6 anos. Para marcar a data, a Editora Melhoramentos lançou uma edição comemorativa pelos 50 anos do livro — que está em seu catálogo desde o início. De lá para cá, foram mais de 150 edições no Brasil e 3 milhões de exemplares vendidos — o recorde foi em 1969, com 320 mil cópias comercializadas, e, embora os números tenham perdido a força com o passar dos anos, eles ainda impressionam. Em 2017, por exemplo, a editora diz que vendeu nada menos de 40 mil exemplares. Sucesso também na TV, no cinema e no exterior.
Desde 2003, não havia uma nova edição da obra no Brasil. No volume que sai agora, em capa dura e novo projeto gráfico, a ilustração de Rui de Oliveira na capa foi substituída pela de Laurent Cardon. O volume traz, ainda, um texto informativo sobre o livro, o autor e o contexto histórico da obra, além de notas de rodapé feitos pelo escritor Luiz Antônio Aguiar. Uma biografia fecha o volume, cuja presença é mais massiva em escola do que em livrarias. Idealizadora da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, um dos principais projetos de formação de leitores do País, a professora Tania Mariza Kuchenbecker Rösing dava aula em escola quando o livro foi lançado. Ela lembra que a Melhoramentos fez uma ampla distribuição do livro pelo País e ela indicou a leitura para seus alunos do 1º ano do antigo segundo grau. “Foi um sucesso absoluto de leitura. Na sequência, quando foi feito o filme, eles desmancharam-se em lágrimas”, recorda.
O escritor e jornalista baiano Athylla Borborema tinha 9 anos de idade quando leu “O Meu Pé de Laranja Lima” e recorda com carinho e espanto a experiência. “Não me lembro de ter me emocionado com tanta intensidade com qualquer outro livro enquanto criança”, revela. Athylla Borborema ganhou o livro como prêmio de 1º lugar em um concurso de poesias da Escola Municipal Duque de Caxias em Itamaraju, onde cursava a 2ª série do primário, em 1979. “Zezé é um personagem apaixonante e a história é inesquecível”, comenta.
Para Athylla Borborema esta não era uma leitura referendada pela universidade, que achava que os jovens deveriam ler apenas os clássicos, e menos ainda pela crítica. “Estava muito distante dos padrões clássicos, mas tocava a sensibilidade dos leitores. Assim, houve um período em que todo leitor se envolvia com o conteúdo dessa obra. E ‘O Meu Pé de Laranja Lima’ obteve uma das melhores recepções dos leitores do século 20. Mas tem a ver com um embate que existe na literatura, que, se separa entre os que defendem uma literatura voltada para o excesso de conhecimento e os que prezam a que tenta emocionar o leitor. Como se emocionar o leitor fosse uma coisa pouco inteligente e pouco estética. Mas entendo que Vasconcellos nunca tenha dado muita bola para a crítica, até porque, muito do que ele escreveu é, na verdade, um relato do que viveu”, simplifica o escritor Athylla Borborema.