O poeta que comprou o mar
Este livro nasce da paixão do autor pelo mar e fruto sem reservas de arriscadas experiências com às águas marítimas. Nasceu a beira mar e daí talvez surgiu o seu amor pelo mar, embora não possa prever quem irá apoderar-se de sua oferenda, se é um homem de pensamento ou um homem de capacidade prática nas águas azuis do mar.
Em “O Poeta que Comprou o Mar” somente o mar e a terra têm, aqui, peso. Pois se trata aqui de terra firme e de mar livre, de tomada da terra e de tomada do mar, de ordenação e de localização. Mas, por melhor que fosse o tema, ele conteria, mesmo assim, um perigo. Na história da poesia a vinculação com as fontes míticas do saber continua a ser muito mais profunda do que com a geografia.
Este livro publicado pela primeira vez em 2003 é o mar da imaginação do seu autor Athylla Borborema e é mais um passo seu no deambulo do mundo da arte. É de tanto se procurar, que se encontra nesta obra. E em verdade nasce a obra por mares de imaginação já de a tempo a sangrar no ventre do poeta grávido de poesias. Poesias trazidas de seu intimo que vai fotografando o mundo, na sua jornada do tempo pelas praias.
Sabemos que o poeta ama a liberdade e nesse anseio de desatar os nós ele se inspira desafiante ou quase arrogante na tentativa de desvendar os mistérios da criação poética. Na liberdade que transparece nos poemas de “O Poeta que Comprou o Mar”, a sonoridade das rimas neste livro, fala da vida e da morte e fala com insistência da aventura no amor. Athylla Borborema começa o livro homenageando as praias e o belo mar de Cumuruxatiba, no litoral norte do município de Prado, extremo sul da Bahia, sua terra natal e o primeiro mar da sua vida.
O livro “O Poeta que Comprou o Mar” é um canteiro em pleno mar, que poeticamente descreve a luta do homem com o Oceano, com os desejos, com os sonhos, com o tempo. A fronteira entre o real e o irreal se dilui nas águas, entre o sol e o nevoeiro. As mulheres são encantamentos e encantadas, conquistas e promessas, encontros e desenganos. Caravelas atravessam os anos e se perdem na navegação dos anos.
A obra mostra que o tempo não existe e a vida está regulada pela lua e pelas marés, pelo tempo heróico dos descobrimentos, fantasmas, barcos e navios que andam, eternos, por todos os mares. Vejamos o duplo aspecto sobre o qual pode nos aparecer o mundo sobrenatural: muito distante no espaço ou muito distante no tempo. Repetidas vezes, disse e escreveu que para nós, modernos, a história faz às vezes da mitologia.
Neste livro, a mitologia popular floresce em evocação do passado, relativamente próximo para os homens ignorantes da história, mas que, na pena do narrador, assume dimensões muito mais vastas e torna presente, para nós, a epopéia marítima da nação portuguesa inteira que se perpetua diante de nossos olhos, através da vida laboriosa de humildes pescadores do litoral brasileiro.
No mar existe algo bastante interessante nesta relação homem – barco. Quando se navega pelos rios bem próximos a margem, é possível observar as matas, e a baixa velocidade do barco é possível contar as árvores. A velocidade é compatível com a possibilidade humana. O mesmo acontece no mar, ou seja, um corredor ou um ciclista podia fazer uma média de velocidade quase igual ao do pescador.
A respeito desta relação se perde a noção de distância quando andamos de avião ou mesmo de carro. A relação tempo espaço só pode ser mensurada com mais precisão se ao nos deslocarmos nós vivermos o deslocamento, ou seja, se ele for proporcional ao seu esforço e absorvido pela experiência de estar ali, interagindo com o planeta, se expondo aos elementos.
Hoje ao me deitar posso fechar os olhos, e através da minha memória posso relembrar cada contorno que a costa brasileira desenha em cima do mar. Já que estou morando temporariamente neste belo planeta, porque não conhecê-lo, explorá-lo, conhecer sua gente, seus hábitos, sua cultura, seu modo de pensar e seus valores. “O Poeta que Comprou o Mar” deixa claro nos poemas que não é somente o mar que nos atrai, além do mar, são tantos encontros especiais e o gosto na boca de que é estar em comunhão com a natureza e a vida. O mar é mais vivo do que você pensa.
O massacre diário que nos mostra tragédias, violência e corrupção, criou uma falsa ideia que o ser humano não vale a pena, que não existe mais esperança, mas o mundo que eu conheço parece estar bem distante desta percepção. Existe compartilhamento, generosidade, respeito, carinho humano, o espírito cooperativo, lembranças e muitas saudades. Quem vive a beira mar ou nas comunidades ribeirinhas é um exercício diário de morrer e nascer, um treino para nos tornar um pouco mais desprendido.
Quem vive das águas aprende a viver com o medo de fracassar, com a dúvida de que conseguiria chegar ao fim de um dia difícil no mar. Mas a sede por aventuras, pelo desconhecido é mais forte e é obrigado todos os dias a ouvir o coração que leva no fundo, uma certeza, que este mergulho te levará por um caminho de muitas descobertas pessoais.
“O Poeta que Comprou o Mar” é uma recompensa do seu autor ao Oceano e ver que a sua escolha foi correta em escrevê-lo, quem se aproxima do mar, conhece a sua essência. A sua ligação com o mar desde que nasceu te fortalece inteiramente hoje e sabe que agora pode continuar a sua maior aventura, a maior viagem de todas, a busca de saber quem és, pela literatura.
A obra venceu o Prêmio Imprensa de Literatura Bahia em Salvador; Sangue Bom de Literatura Bahia em Salvador; Banco do Brasil de Literatura em Brasília; Troféu Literarte Melhores do Ano da Associação Internacional de Escritores e Prefeitura Municipal de Curitiba; E levou o seu autor a receber a Comenda Chico Anysio de Literatura, conferida pela ALAF – Academia de Letras e Artes de Fortaleza e Governo do Estado do Ceará.