2004

ISBN 978-85-464-0570-1


Livro vencedor do Prêmio Imprensa de Literatura Bahia; Medalha Paladino da Literatura Brasileira e levou o seu autor conquistar a Comenda Beija Flor. “A Garotinha do Vestido Azul” é uma sublime história infantil de uma menina que sonha seus sonhos até no sopro do vento e vive buscando aprender para não ser engolida pela falta do saber purificada em literatura de cordel.

A Garotinha do Vestido Azul

Assim como as cantorias dos repentistas, as receitas sempre foram passadas boca a boca. O cordel foi um meio de transportar os repentes para o papel, assim como os livros de receitas acolhem a história e o passo a passo de almoços memoráveis de famílias e amigos. Como as histórias dos folhetins, as receitas têm princípio, meio e fim. Com a vantagem de sempre terem final feliz, nem que seja da segunda vez, depois de aprender com os erros. Para uma receita de final feliz, mais importante que acertar é usar bons ingredientes.

O livro “A Garotinha do Vestido Azul” do seu autor Athylla Borborema, que não tem pretensão de ser registro histórico ou retrato da literatura de cordel, é uma viagem em rimas e sabores inspirados pela beleza do cordel e do Nordeste do Brasil. O cordel é uma paixão do seu autor desde menino e este livro publicado pela primeira em 2004 é a sua segunda obra de cordel, o primeiro é o “O Capoeirista das Palavras” publicado no ano 2000 em homenagem a cultura da capoeira no nordeste do Brasil. A criação de uma poesia pura não tem sentido. Se realmente é poesia, sempre é impura, pois arrasta o vital do homem.

O processo de cristalização do poético a que pretendem chegar os defensores da poesia pura, para obter um produto tão depurado como o mais puro corpo químico, somente consegue eliminar, juntamente com as impurezas, a verdadeira poesia. Não há outra explicação para o poético que a crença em um estado superior de vida para o homem, no entanto, não uma vida além ou aquém da real, mas sim esta vida concreta que vivemos aqui, com os pés sobre a terra. A poesia está situada nesse “mundo superior”.

A autêntica poesia do seu autor nos revela que não é um sonho aproximar-se desse estado superior do homem, e aspirar a viver nele. A voz do poeta, ao expressar-se a si mesmo, é também expressão autêntica de seu tempo, no que tem de mais profundo, no essencial. O verdadeiro poeta é sempre atual, pertence à sua época. Pertence à sua época não na revelação do anedótico, do documentário, mas sim como representante das aspirações de um homem colocado em determinado instante do acontecimento.

Não sei se a poesia deve situar-se no presente, no futuro ou no passado. Situa-se apenas no tempo, varrendo com as pueris antinomias que querem separá-la da vida, como se precisamente nela não estivessem estabelecidas e resolvidas de antemão todas as reivindicações humanas, desde as mais elementares até as mais elaboradas e complexas. Pouco a pouco se toma consciência da poesia como processo de revelação. Uma ruptura com os estreitos limites a que são submetidos os seres, por ordem do utilitário, para lhes impedir uma fraternidade mais profunda entre si e o Universo. Ela suscita uma forma particular de conhecimento, ou seja, uma dimensão da existência.

A poesia não tem sido (nem pode ser) algo concreto, algo facilmente reconhecível “por todos e em qualquer circunstância”. Cada época – cada poeta – propôs sua maneira distinta de entender o poético e de praticá-lo. Houve inclusive poetas cujo tom de voz (e a própria estrutura que assumiram várias de suas peças) se diversificou com o tempo. Em poesia não há fórmulas de aplicação assegurada e vã toda “poética”. O prudente seria reconhecer que carece de denominador comum, que o próprio da poesia é essa ausência de denominador.

A crítica “impressionista” pode, por sua parte, ser também meritória, entretanto, poucas vezes acrescenta algo ao poema. Em todo caso, sua interpretação subjetiva – por mais que desperte a curiosidade e induza à leitura, no mínimo da classe estudantil – não nos iluminará acerca do insólido e do atraente do poema, daquilo que o torna único para o leitor.

Mas é através da poesia popular que o aluno poderá conhecer aspectos da história nordestina, em particular, pois o cordel como manifestação cultural retrata o cotidiano, a realidade do povo brasileiro e suas peculiaridades. Devemos destacar a importância de se trabalhar a leitura e escrita da classe estudantil, proporcionando aos mesmos, o contato com o gênero textual cordel de forma lúdica e criativa enquanto estrutura em versos e rimas, reconhecendo-o como um texto possível de ser lido, interpretado e declamado.

É muito rica e diversificada a produção cultural de um povo; mas o nordestino é especial. No entanto, talvez o nosso maior problema seja a não valorização daquilo que temos. É mais propício aceitar o que a mídia propõe do que explorar o que está em nosso dia-a-dia. A literatura de cordel é exatamente isso – cultura popular. Os versos estão sempre relatando acontecimentos, fatos políticos, artísticos, lendários, folclóricos ou pitorescos da vida como ela realmente é.

Sua produção é simples como o povo; não requer tanto “estilísmo” ou “formalidades”; sua abrangência alcança todas as classes sociais. Assim, o que falta é o reconhecimento e a valorização. Ao propor este trabalho para os alunos em sala de aula, estaremos oferecendo um leque de recursos que os ajudarão em várias carências de aprendizagem, como a produção textual, a leitura, a escrita, a linguagem não verbal (na análise da xilogravura), apreciação artístico-literária e um universo para a socialização e cidadania, principalmente, no campo da Literatura.

Neste livro de cordel “A Garotinha do Vestido Azul” Athylla Borborema narra com rima a bela história de uma pequena menina de 10 anos, nascida e criada numa comunidade rural do sertão, que apesar de estudiosa, destemida e persistente, sofre com o preconceito porque não possui roupas para usar na escola. Até que um dia, ela ganha um vestido azul da professora e sua vida muda nos olhos das pessoas, seus pais investem na aparência da casa, a sua comunidade resolve estruturar suas residências, até que o município entendeu que deveria promover investimentos também naquela localidade. Uma simples ação desencadeou inúmeros feitos progressistas.

“A Garotinha do Vestido Azul” traz uma história cheia de aventuras em meio ao seu sonho, não de virar princesa, mais de sonhar com algo novo. Esta obra de Athylla Borborema é também pedagógica, possui subsídios didáticos, igual a todos os livros de literatura de cordel. É, sobretudo, um livro da literatura popular com chance de aceitação e valorização, podendo fazer despertar entre as pessoas o gosto pela preservação dos nossos artistas e da cultura nordestina nas escolas e se comovendo com a história e podendo o leitor, com sua narrativa se tornar uma pessoa ainda melhor de coração e ação.

Diz-se que a literatura existe para purificar e sublimar o inferno real. Ficções seriam sonhos benignos, com que nos distraímos dos horrores dos dias atuais. A literatura de Athylla Borborema não é para massa nem para elite, mas sim para quem a sentir. Não é para pobre nem para rico, mas sim para quem sabe o valor do ser humano. Enfim, a literatura de Athylla Borborema é sua, pois só foi feita por você. Afinal, existir é um desafio e desafiar é viver, por isso, a gente vai vivendo e sempre buscando aprender, para não ser engolido, pela falta do saber.

O livro “A Garotinha do Vestido Azul” venceu o Prêmio Imprensa de Literatura Bahia em Salvador; Medalha Paladino da Literatura Brasileira do Ministério da Cultura do Brasil e Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro e levou seu autor conquistar a Comenda Beija Flor, conferida pela Academia Capixaba de Letras e Artes de Poetas Trovadores e Prefeitura Municipal de Santa Teresa- ES.