Livro “Balada da Misericórdia na Primavera” é a nova obra do escritor Erivan Santana
O professor Erivan Santana, imortal da Academia Teixeirense de Letras, titular da Cadeira nº 36 da ATL, lançou o seu novo livro de poemas, intitulado “Balada da Misericórdia na Primavera”, publicado pela Editora Lura, SP. O novo livro de Erivan Santana é prefaciado pelo também poeta e filósofo Maurício de Novais e traz posfácio assinado pelo jornalista e poeta Almir Zarfeg, o que já diz muito sobre o material em questão. A obra contendo 60 poemas está muito bem apresentada e recomendada aos leitores.
A nova obra literária de Erivan Santana traz uma poesia moderna, ágil e intertextualizada. Trata-se de um poeta que, de posse da linguagem, se permite dialogar com situações e personagens da história. Muito mais que isso, Erivan consegue manter uma comunhão de alto nível com poetas – como Neruda –, com pintores – como Cézanne –, com filósofos – como Nietzsche –, a fim de tornar a sua literatura muito mais tecida, viva e enriquecida.
O poeta Erivan Santana toma posse para, mais que informar, contagiar, emocionar e abraçar seus leitores. Quanto à forma, Erivan escreve leve e livremente, sem nenhum apego às rimas e muito menos à métrica. Para ele, bastam o ritmo, o gingado e a balada. Escreve poema conforme as urgências deste tempo – tempo terrível –, e dança segundo as emergências desta época – época líquida, diria Bauman –, sempre citado pelo poeta itanheense, embora, teixeirense de coração. Os poemas são quase sempre curtos, talvez por isso conquistem à primeira leitura.
Estamos, sobretudo, diante de um livro composto de versos livres, o que é marca registrada da produção de Erivan Santana, que sempre prefere o ritmo à rima, a fluência à metrificação. Enfim, trata-se de um poeta herdeiro das conquistas modernistas que revolucionaram o jeito de poetar, trocando o complicado pelo simplificado, mas sem abrir mão da qualidade literária.
O poema “11º Mandamento”, como escreveu o premiado poeta Almir Zarfeg, abre as 60 baladas que compõem a obra em questão, possui cinco estrofes. A este poema – a atenção continua focada no texto propriamente dito – envolve palavras e expressões bem conhecidas e coloquiais, mas escolhidas com critério, de modo que a leitura flua sem nenhuma dificuldade. O jornalista, poeta e presidente de honra da Academia Teixeirense de Letras, Almir Zarfeg escreveu, com a sabedoria que lhe é característica, uma resenha sobre o novo livro do poeta Erivan Santana – leia na íntegra.
Por Almir Zarfeg – Subvertendo o método analítico, que parte do geral para o singular, vamos nos concentrar no poema “11º Mandamento”, extraído do livro “Balada da misericórdia na primavera”, que acaba de sair pela Lura Editorial.
Inicialmente, vamos nos concentrar nos planos de expressão e de conteúdo para, somente depois, tirar algumas conclusões sobre a mais nova obra poética do ocupante da Cadeira 36 da Academia Teixeirense de Letras (ATL) – Erivan Santana.
Pois bem, formalmente, estamos diante de um poema composto de versos livres, o que é marca registrada da produção de Erivan, que sempre prefere o ritmo à rima, a fluência à metrificação. Enfim, trata-se de um poeta herdeiro das conquistas modernistas que revolucionaram o jeito de poetar, trocando o complicado pelo simplificado, mas sem abrir mão da qualidade literária.
O poema “11º Mandamento”, que abre as 60 baladas que compõem a obra em questão, possui cinco estrofes, compostas de maneira irregular: a 1ª e a 2ª estrofes têm dois versos, sendo chamadas de “dísticos”. A 3ª estrofe possui três versos, o que lhe vale o nome de “terceto”. A 4ª e a 5ª estrofes repetem as anteriores, possuindo dois e três versos, respectivamente.
Este poema – nossa atenção continua focada no texto propriamente dito – envolve palavras e expressões bem conhecidas e coloquiais, mas escolhidas com critério, de modo que a leitura flua sem nenhuma dificuldade. A única novidade é o substantivo próprio “Cézanne” –, que remete ao pintor pós-impressionista francês Paul Cézanne –, com quem Erivan dialoga e é referência notável no texto.
No plano do conteúdo, por sua vez, é onde vamos encontrar as referências, implícitas e explícitas, que conduzem o texto, revelando as escolhas temáticas do poeta e, também, dando pano para algumas reflexões.
Logo no título, o poeta dialoga com o famoso decálogo judaico-cristão, mas inova propondo um novíssimo mandamento, em que, em vez do pecado da cobiça, sugere a liberdade de invenção proporcionada pela pintura e pela poesia. Em vez do castigo imposto pela religião, administra a esperança colhida nas manhãs.
Na 1ª estrofe (dístico), o poeta estabelece uma comparação entre verso e pincelada, dando o pontapé inicial. Não fosse o “como” no meio do caminho, o autor teria criado uma metáfora de grande expressividade. De todo modo, a equação Verso + Pincelada + Céu = Beleza é gostosa de se ler/ver.
A partir dessa introdução imagética (ninguém resiste à força de uma imagem), na 2ª estrofe (dístico) o poeta explicita o contraste entre as cores azul e cinza (fria e neutra), para desembocar em ninguém menos que Paul Cézanne, pintor que volta e meia é citado por Erivan Santana.
Na 3ª estrofe (terceto), além do encontro marcado com o pintor, Erivan se declara às cores e celebra a vida, antecipando a primavera que tem data marcada para chegar – 22 de setembro – ao hemisfério sul.
Na 4ª estrofe (dístico), o poeta anuncia alguns elementos naturais – vide “manhã” – que se estendem à 5ª estrofe (terceto) – vide “vento” –, encaminhando-se para o grande final, em que filosofa que tudo, inclusive o poema, é ilusão e desejo de felicidade.
Destrinçado o poema, vamos às conclusões imediatas: na forma o texto é esquemático e flui como uma balada, envolvendo o leitor pela informalidade da linguagem e singeleza do vocabulário. Na temática, no lugar do pecado e da cobiça, presenteia os leitores com vaso de flores, votos de esperança e sopros de felicidade.
Dito isso e antes que a estação das flores nos tome com seus aromas, já deu para notar que a intertextualidade é um recurso recorrente em Erivan Santana. Ela está presente neste “11º Mandamento” e nos 59 demais poemas que compõem “Balada da misericórdia na primavera”. Nada contra, até porque aparece de maneira espontânea e não forçada, providencial e não gratuita. Pois o excesso de referências pode comprometer a criatura, assim como a ausência de repertório pode fragilizar o criador.
Apenas apresentei e comentei um único poema de uma obra interessante e promissora, partindo da unidade para o todo, mas cada leitor, ao saborear os textos na íntegra, vai tirar suas próprias conclusões. Então, ótima balada!
11º MANDAMENTO
Um verso como uma pincelada na
Tela difusa da amplitude do céu
A tarde sempre poderia ser azul
Não fosse o cinza dos facínoras
Por isso, Cézanne pintou
Um mergulho em tela cheia
Em cores, celebração da vida
Nas manhãs, sempre há um
Sussurro de esperança e fé
Percorrendo o tempo
O vento sempre traz ilusão
Místico desejo de felicidade.