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Espírito Santo sedia em Conceição da Barra a maior jazida de sal-gema da América Latina

O Espírito Santo concentra a maior jazida de sal-gema da América Latina. São 11 áreas, que somam 12 bilhões de toneladas, localizadas nos municípios de Conceição da Barra, Ecoporanga e Vila Pavão, no extremo norte do Estado. Sal-gema é o cloreto de sódio, acompanhado de cloreto de potássio e de cloreto de magnésio, que ocorre em jazidas na superfície terrestre. Tais substâncias podem ser usadas em diversas finalidades industriais, como vidro, papel e celulose. A descoberta deverá ser a mola propulsora da economia da região nos próximos anos.

Diferente do sal marinho que surge a partir da evaporação da água represada pelo homem o Sal-gema tem o mesmo “DNA” (cloreto de sódio) de seu “irmão caçula” mas vem de baixo da terra. Trata-se de uma matéria-prima versátil, usado na fabricação de cloro, soda cáustica, ácido clorídrico e bicarbonato de sódio; na composição de produtos farmacêuticos; nas indústrias de papel, celulose. Se projetado de forma ampliada, o potencial da exploração do Sal-gema será ainda maior do que o especulado, visto sua utilização direta na principal cadeia produtiva dessa região, o papel e celulose, onde se concentra as maiores plantas industriais do setor do mundo.

A conclusão é que a possibilidade da jazida se estender até o município baiano de Mucuri é bem possível, visto que o extremo norte capixaba e o extremo sul da Bahia são regiões limítrofes. O mapa disponibilizado mostra a jazida capixaba focada apenas em território de Conceição da Barra, no entanto, está a menos de 10 Km da divisa do Espírito Santo com a Bahia, possibilitando colocar o território de Mucuri no raio de abrangência da jazida capixaba. A jazida de sal-gema de Conceição da Barra, no extremo norte do Espírito Santo, é considerada a maior jazida de sal-gema do Brasil, com 54% das reservas estimadas no país, totalizando um volume de quase 20 bilhões de toneladas, maior do que as jazidas de Mossoró (RN) e Maceió (AL) juntas.

No último dia 2 de setembro de 2021, líderes políticos capixabas e moradores do município de Conceição da Barra debateram em audiência pública as potencialidades e desafios para a exploração do sal-gema capixaba. A audiência foi realizada no auditório do CRAS – Centro de Referência de Assistência Social do distrito de Braço do Rio, em Conceição da Barra, por uma iniciativa da Comissão de Infraestrutura da ALES – Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo em conjunto com o Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados.

O anfitrião do encontro foi o prefeito de Conceição da Barra, Walyson José Santos Vasconcelos, o “Matheusinho” (PTB), que destacou o volume dos depósitos do sal fóssil no solo barrense e as aplicações dessa matéria-prima na indústria química voltada à produção de cloro e soda. Segundo Matheusinho, atualmente o Brasil importa sal, mas essa lógica pode mudar. “Com a produção de sal-gema no Espírito Santo, o cenário poderá se inverter e o Brasil poderá exportar. Uma das vantagens do Espírito Santo seria justamente a localização das reservas. É a única jazida do país próxima do Sul-Sudeste”, observou o prefeito.

O presidente da Comissão de Infraestrutura da ALES, deputado estadual Marcelo Santos (Podemos), lembrou que diversos segmentos econômicos poderão ser beneficiados a partir dos investimentos decorrentes da retirada de sal-gema, como o comércio local, gerando emprego e renda, e reforçando a arrecadação municipal. O deputado falou sobre a importância para a capacitação da mão de obra local e citou o papel do IFES – Instituto Federal do Espírito Santo e da UFES – Universidade Federal do Espírito Santo nesse processo.

Os desafios que podem surgir a partir desse potencial também foram abordados, a exemplo do deputado federal Da Vitória (Cidadania), presidente do Centro de Estudos da Câmara dos Deputados, que destacou que o aumento dos gastos públicos para suprir as ofertas de serviços essenciais devido ao crescimento da demanda e impactos ambientais. A audiência ocorreu no momento em que os 11 blocos de sal-gema na região de Conceição da Barra estão sendo leiloados pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

Além dos dois parlamentares, o tablado do CRAS foi preenchido por prefeitos da região e deputados estaduais e federais dividiram o microfone em mensagens de franco otimismo com o potencial das jazidas capixabas, descobertas há 40 anos e consideradas as maiores da América Latina, estimadas em 12 bilhões de toneladas. Entre as figuras políticas, o presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), e os colegas de parlamento Marcos Madureira (Patri), Raquel Lessa (Pros) e Freitas (PSB), este, presidente da Frente Parlamentar, dentre inúmeros prefeitos capixabas e representantes de instituições de ensino e pesquisa do Estado.

Os participantes destacaram a expectativa de desenvolvimento social e econômico atrelada ao mineral, mas também lembraram da importância do planejamento para receber os investimentos e minimizar impactos. Algumas autoridades citaram os problemas ocorridos em Maceió, onde houve afundamento do solo atribuído às lavras de sal, mas minimizou que isso pudesse ocorrer em Conceição da Barra.

O deputado estadual Marcelo Santos, vice-presidente da Assembleia, fez menção ao tema, ao citar a tragédia de Maceió, capital de Alagoas, onde bairros inteiros estão virando áreas fantasmas devido ao afundamento do solo e remoção de pelo menos 55 mil famílias, configurando o maior crime socioambiental em curso do mundo, após 40 anos de exploração de sal-gema pela gigante Braskem. O parlamentar disse, no entanto, que o episódio não ocorrerá no Espírito Santo.

O deputado federal Da Vitória salientou que as lideranças políticas locais, estaduais e federais devem atuar no sentido de criar um ambiente para atrair os investimentos e proporcionar a geração de emprego e renda. O presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso apontou para necessidade de “desburocratização da máquina pública” para “gerar emprego e renda”, dizendo que em cinco décadas, cerca de 15 mil novas oportunidades de emprego serão criadas em solo capixaba com a exploração do sal-gema.

Já o deputado federal Felipe Rigoni Lopes revelou o seu empenho pessoal junto à Agência Nacional de Mineração (ANM) para destravar a concessão das jazidas para a iniciativa privada, após décadas sob alçada da Petrobras. O deputado explicou que os vencedores do certame terão direito a realizar pesquisas mineral nas áreas durante três anos, período em que se estima a injeção de R$ 170 milhões em investimentos em serviços de mapeamento do solo.

Apesar das potencialidades, o setor produtivo aponta gargalos que devem ser superados para atrair os investidores. Essa é também uma das tarefas da Frente Parlamentar do Sal-Gema na ALES. O deputado estadual José Eustáquio Freitas (PSB) revela que a Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo vai trabalhar para fortalecer os interesses da iniciativa privada junto ao governo do Estado. Isso inclui ações para melhorar a logística e a segurança no fornecimento da energia elétrica e água. A água, não necessariamente doce, precisa estar disponível em abundância para injeção nos poços e extrair a salmoura. Na logística, os modais preferidos são a linha férrea e portos.

O prefeito Matheusinho abordou o histórico do sal-gema na região, dizendo que cresceu ouvindo sobre o assunto e que agora, como gestor, está fazendo o “dever de casa” para proporcionar o rápido desenvolvimento de Conceição da Barra que, segundo ele, “é um município pobre”. O prefeito Matheusinho disse que o Espírito Santo poderá tirar o Brasil da condição de importador de sal-gema para exportador e que diversos segmentos econômicos poderão ser beneficiados a partir dos investimentos feitos para viabilizar a atividade, como o comércio local, gerando emprego e renda, e reforçando a arrecadação municipal, sendo necessário realizar a capacitação da mão de obra local, com apoio do IFES e da UFES. Mencionou também a necessidade de considerar o aumento dos gastos públicos para suprir as ofertas de serviços essenciais devido ao crescimento da demanda e impactos ambientais.

Em 1976, enquanto perfurava os entornos de Conceição da Barra em busca de hidrocarbonetos, a Petrobras acabou não achando petróleo, mas constatou a presença de sais solúveis na região. Diante das potencialidades no subsolo capixaba, a Petromisa, subsidiária da estatal voltada para a mineração, assumiu os trabalhos para pesquisar as localidades, que somam 110 mil hectares. Quis o destino, ou a natureza, que ao longo do tempo a mineradora, já extinta, acabasse descobrindo a maior jazida de sal-gema do Brasil, com 54% das reservas demarcadas no país, totalizando um saltério de quase 20 bilhões de toneladas. Mas de lá para cá essa riqueza permaneceu intocada. A expectativa é que o mineral represente um novo ciclo econômico para o extremo norte capixaba e também para o Estado.

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