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Baleias-jubarte começam a chegar ao litoral da costa do descobrimento

Todos os meses de julho, agosto, setembro, outubro e novembro, as águas calmas e quentes do litoral baiano são cenário das acrobacias e cantos das baleias jubartes. Todo ano, as ilustres visitantes viajam por cerca 2 meses, da Antártida até o Brasil, para acasalar, reproduzir, e dar um show para quem tem a oportunidade e o privilégio de vê-las em alto mar.

A estimativa do Projeto Baleia Jubarte é que a população da espécie que vem para o Brasil, nesse ano de 2020, passe dos 20 mil exemplares. Durante a temporada, elas podem ser vistas desde o norte de São Paulo até o sul do Rio Grande do Norte. A maior concentração está entre o extremo norte do Espírito Santo e o extremo sul da Bahia, e 70% delas escolhem o arquipélago de Abrolhos, no município de Caravelas, que é o principal berçário das jubartes no Atlântico Sul.

“São cantoras de ópera e dançarinas acrobáticas. Dentre as espécies, são as mais exibidas. Geralmente, os machos cantam para seduzir e copular, mas é também uma forma de comunicação”, explica Enrico Marcovaldi, um dos coordenadores do Projeto Baleia Jubarte, que monitora a espécie há 32 anos. O pico das jubartes no litoral brasileiro é agosto e setembro. O veterinário Milton Marcondes, coordenador de Pesquisas do Projeto Baleia Jubarte, explica o motivo da espécie fazer uma viagem tão longa para se reproduzir, numa pura sabedoria da natureza.

“Na região aquática do arquipélago de Abrolhos, há recifes de corais, onde elas procuram água mais abrigada, mais calma. Mesmo que o mar ‘cresça’, a água é mais calma, sem muitos predadores. Aqui elas encontram água mais quente. No útero da mãe, os filhotes estão a 37ºC, 38ºC, se fosse nascer na Antártida, nasceria na água 4ºC, 2ºC. Aqui nasce numa água a 25ºC, 26ºC, mesmo estando no inverno, e eles (os filhotes) não precisam estar com uma capa de gordura tão grande”.

Esse ano, o registro da primeira jubarte da temporada foi em 30 de abril, no mar aberto de Ilhabela, município do litoral norte de São Paulo. Na Bahia, elas começam a chegar ainda em junho, mas é em julho que já é possível enxergar elas chegando em um maior número, especialmente em Abrolhos, onde equipes do Projeto Baleia Jubarte já avistaram 120 baleias no período de 1º a 20 de julho. O número aponta que vai ser uma boa temporada, com muitas visitantes. Entre Praia do Forte, litoral norte da Bahia, e Salvador, já foram vistas 30 baleias. Na capital, em um só dia, pesquisadores do projeto avistaram 8 delas, fora da Baía de Todos-os-Santos, trecho entre o Porto da Barra e Itapuã.

Enrico Marcovaldi explica que, na capital, elas podem ser vistas, muitas vezes, mais perto da costa. Elas costumam aparecer em locais com 100 e 120 metros de profundidade. Com a pandemia do novo coronavírus, há menos gente e embarcações no mar, mas os pesquisadores ainda não sabem se isso pode trazer uma mudança no comportamento das jubartes na temporada.

As baleias jubartes surpreendem pelo tamanho e beleza. Elas podem chegar a até 16 metros de cumprimento e a pesar das suas 35 toneladas. “Quem vê uma baleia nunca esquece”, disse Enrico Marcolvadi, do Projeto Baleia Jubarte.

É o que confirma o pescador Uilson Alexandre, mais conhecido como Lixinha, de 47 anos. Ele mora em Caravelas, no extremo sul baiano, à cidade mais perto do arquipélago de Abrolhos, e seguiu na profissão da família. Aos 7 anos já pescava com o pai. E foi nessa idade que viu uma baleia jubarte pela primeira vez, há 40 anos.

Estima-se que as jubartes vivam até os 60 anos. Monitoradas pelo projeto, algumas já são conhecidas dos pesquisadores. Todo ano voltam para acasalar ou reproduzir. “Tem baleia que a gente conhece desde 1988, e quase todo ano retorna a região e agora já adulta, com mais de 30 anos”, disse Milton Marcondes.

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